O caso do policial português

O caso do policial português: literatura policial. Lisboa: Câmara municipal. Divisao de Bibliotecas e Documentaçao, 1998 [catàleg d'exposició]. ISBN: 972-97129-2-1

A literatura policial surge no panorama editorial associada a áreas de interesse marginal face a outras que no mesmo domínio da ficçao ambicionam ultrapassar o estatuto da mera recreaçao. A literatura de entretenimento foi sempre considerada uma literatura menor. De "cordel" na expressao corrente e popular.

No entanto o entretenimento nao é incompatível com a qualidade e o enriquecimento cultural.

De outra forma nao tínhamos hoje assumidos como património da nossa cultura literária obras como O Mistério da Estrada de Sintra com que Eça de Queiroz e Ramalho Ortigao mantiveram durante largas semanas os leitores do Diário de Notícias suspensos do desenlace que aos poucos  iam, na boa tradiçao folhetinista, preparando.

É esta literatura que hoje estamos a descobrir como expressao muito particular da actividade literária, na altura em que se comemora o centenário do nascimento de Reinaldo Ferreira, o Repórter X, e os cinquenta anos da colecçao Vampiro das ediçoes dos Livros do Brasil e referência da literatura policial em Portugal.

Literatura da marginalidade, do mistério e da aventura herda da tradiçao do folhetim uma técnica narrativa muito própia destinada a uma particular ligaçao ao leitor. É na sua essência uma literatura de massas e como tal porventura subvalorizada por quem tem da cultura entendimentos elitistas.

A exposiçao que a Câmara Municipal agora apresenta é um testemunho da vitalidade e da importância cultural de uma literatura que regista entre os seus cultivadores nomes como os de José Rodrigues Miguéis, Fernando Pessoa ou Mário Domingues.

Outros como Henrique Nicolau, Ana Teresa Pereira, Francisco José Viegas estao a trazer para o primeiro plano da visibilidade cultural esta temática e através dela a abrir novos espaços de afirmaçao dos escritores portugueses.

Na sequência desta iniciativa a Câmara Municipal de Lisboa entendeu oportuno reunir num único espaço o acervo "policial" das bibliotecas municipais, criando na Biblioteca Municipal Camoes un núcleo especializado em literatura policial.

Esperamos que tal contribua ainda mais para o conhecimento de um universo literário tao mal conhecido e acima de tudo para se lerem mais os escritores portugueses.

Joao Soares

Presidente da Câmara Municipal de Lisboa